Pé Atrás

A expressão popular título do texto em tela, caso compreendida do modo adequado, pode esclarecer alguns aspectos importantes do surgimento de momentos de polarização que podem transformar os conflitos cotidianos em situações crônicas de agressividade gratuita e inconsciente. Para tentar superar tais questões urge pensar a respeito dessa expressão. É o que farei nas próximas linhas.
Ficamos com o “pé atrás” em relação a uma pessoa quando perdemos nossa disponibilidade natural de receptividade. Natural, pois de acordo com as mais recentes descobertas da neurociência, os seres humanos são “wired for empathy” antenados para empatia (expressão cunhada por Daniel Goleman). Pois é. A questão central não é saber a razão pela qual perdemos nossa receptividade natural. Tal questão não importa já que ela varia conforme a pessoa com a qual nos relacionamos, a projeção que fazemos dela (lembre-se que como esclarece Jung) é impossível escaparmos de uma ou outra forma de projeção e conforme as reações que as atitudes “segundo nossa avaliação” de dita pessoa provocam em nós.
Enfim, colocamos um “pé atrás” pois perdemos a confiança na capacidade de mudança da pessoa com a qual estamos nos relacionando. Todavia a postura “pé atrás” acaba por dificultar o surgimento de um ambiente relacional propicio a transformações. Assim entramos em um círculo vicioso: saco cheio, pé atrás, polarização, agressividade (...). Quem de nós já não passou por situações como essa?
A melhor atitude para estabelecer um ambiente relacional positivo é tomar consciência da nossa postura “pé atrás” e oferecer a nós mesmos e as pessoas com as quais partilhamos nosso cotidiano a chance de mudar.

Guilherme Assis de Almeida

Imagem: Unsplash, em CC0 Public Domain